domingo, 16 de janeiro de 2011

O pinguim-rei quer ficar só com a coroa, e deixar os anéis!

Nem todas as aves voam. Existem, de facto, algumas que fizeram “escolhas” diferentes. Os pinguins, presentes apenas no hemisfério austral, onde vivem e nidificam nas costas da Antártica e das terras mais próximas, são as aves que melhor se adaptaram à vida em ambiente marinho. E conseguiram-no compensando a perda da capacidade de natação, rivalizando com as focas graças às asas estreitas, semelhantes a barbatanas, e à forma hidrodinâmica do corpo. Se puderam renunciar ao voo, foi porque no ambiente em que vivem não há predadores terrestres e todos os alimentos se encontram debaixo de água, consequentemente os pinguins são considerados uns dos predadores que ocupam o topo da cadeia alimentar.
Por essa razão e por se habitarem em latitudes muito altas – o que possibilita um melhor estudo das consequências das alterações climáticas – o pinguim rei (aptenodytes patagonicus) foi escolhido para um estudo intensivo nos últimos anos para que pudessem avaliar a capacidade de adaptação ás mudanças climáticas nos ecossistemas marinhos. Assim, como acontece desde o século XVIII, os biólogos que estudam os animais marcam-nos com anéis para os reconhecerem e poderem tirar conclusões sobre o seu comportamento, pensando que estes anéis seriam inofensivos sobre a vida do animal.
Porém, resultados de um estudo realizado na Universidade de Estrasburgo (França), juntamente com colegas de organizações norueguesas mostram que “estes anéis reduzem a propulsão durante a sua natação e a sua eficiência para escapar a predadores ou para encontrar alimento” explica Yvon Le Maho autor do estudo e investigador da Universidade. Os autores deste trabalho comparam o comportamento dos pinguins marcados com os anéis com os pinguins que não possuíam anéis. Os resultados foram surpreendentes e invocáveis. Os animais que transportam os anéis levam mais tempo a chegar á zona de reprodução, nadam pior e perdem mais tempo à procura de comida. O que, no final, gera uma produção de 40% menos crias em aves marcadas e uma diminuição de 16% na taxa de sobrevivência destes animais. E, como o estudo demorou 10 anos a ser realizado, os cientistas também concluem que os pinguins nunca se chegam a adaptar aos anéis nem aos efeitos negativos que têm na sua capacidade de nadar, o que totaliza, como já se viu, enormes prejuízos para esta espécie.
Concluindo assim, está na hora de deixarmos de estudar os pinguins com estes anéis e tentar arranjar outra maneira. E, se calhar também está na altura de ver os efeitos que os anéis utilizados noutros animais têm na sua vida.

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